Uma das perguntas que surge com frequência tem a ver com a prática desportiva quando há um diagnóstico de escoliose. Por esse motivo irei trazer alguma luz tentando entender qual o consenso actualmente entre a relação da Escoliose e a prática desportiva.
A Escoliose é um termo geral para algumas condições que provocam alterações na forma e posição da coluna, tórax e tronco. Onde esperaríamos ter uma coluna vertebral alinhada verticalmente, ela pode adoptar curvas laterais e assumir formas como exemplo: um “C” ou um “S”, que é por vezes aquilo que vem imediatamente à mente de todos quando pensamos em escoliose.
A Escoliose pode surgir numa idade juvenil ou na adolescência e maioritariamente nos picos de crescimento rápido da criança. E por esta razão, nunca é demais frisar a importância que os pais têm na detecção precoce. Pois são eles que estão diariamente com a criança e têm um papel preponderante na observação do seu crescimento.
A possibilidade da prática desportiva fora e/ ou dentro da escola de uma criança com escoliose traz sempre alguma ansiedade aos pais. Isto porque pensam que poderá agravar a condição.
A resposta poderá ser simples. Ao que parece, é consensual que não exista evidência científica de que qualquer tipo de actividade desportiva possa alterar a história da Escoliose idiopática (Liljenqvist, Witt, Bullmann, Steinbeck, & Volker, 2006). E até mais, a Sociedade científica internacional para o tratamento e reabilitação de escoliose (SOSORT) na sua última guideline, encoraja a prática activa de actividades desportivas (Negrini et al., 2018, p. 28).
Para além de parecer não agravar o grau ou contribuir para o surgimento de escoliose, parece que os pacientes com escoliose que fazem exercício regularmente, mostram uma maior auto-estima e têm maiores resultados a nível psicológico (Negrini et al., 2018, p. 28).
Quando o objectivo é o tratamento, é fundamental que sejam feitos exercícios específicos para correção da escoliose (Berdishevsky et al., 2016), isto sob o aconselhamento de um Fisioterapeuta, já que participar num desporto ou modalidade desportiva por si só não ajuda a corrigir ou prevenir a progressão da escoliose. O grande objectivo da actividade desportiva é o de melhorar o nível de condição física e do bem-estar na generalidade (Negrini et al., 2018, p. 28).
Em relação a se há alguma recomendação acerca de desportos a evitar, não há. O bom senso fez com que, até agora se evitassem desportos assimétricos como tênis por exemplo, mas não parece haver evidência que comprove que haja algum agravamento com estas modalidades. Em relação à natação, que foi sempre o desporto de eleição para quem sofre de escoliose, parece haver uma associação com assimetrias no tronco e híper-cifose. A ginástica e o ballet, têm o dobro da prevalência de casos de escoliose, mas parece que têm mais a ver com o facto de ser uma modalidade que recebe mais atletas que já têm por si só uma maior flexibilidade geral e isso pode contribuir para os números altos de incidência.
Parece que o importante é ter em mente que o desporto em si não contribui para o surgimento da escoliose ou a agrava. Embora não esteja descrito, o bom senso diz-nos para evitar desportos com grande impacto ou que obriguem a grandes cargas assimétricas isto para evitar lesões ou potenciar desequilíbrios musculares na coluna. E para tratamento, são exercícios de fisioterapia específicos para escoliose e não qualquer outra modalidade que têm o maior nível de evidência científica.
Rodrigo J.C. Estiveira
Bibliografia
Berdishevsky, H., Lebel, V. A., Bettany-Saltikov, J., Rigo, M., Lebel, A., Hennes, A., . . . Durmala, J. (2016). Physiotherapy scoliosis-specific exercises - a comprehensive review of seven major schools. Scoliosis Spinal Disord, 11, 20.
Liljenqvist, U., Witt, K. A., Bullmann, V., Steinbeck, J., & Volker, K. (2006). [Recommendations on sport activities for patients with idiopathic scoliosis]. Sportverletz Sportschaden, 20(1), 36-42.
Negrini, S., Donzelli, S., Aulisa, A. G., Czaprowski, D., Schreiber, S., de Mauroy, J. C., . . . Zaina, F. (2018). 2016 SOSORT guidelines: orthopaedic and rehabilitation treatment of idiopathic scoliosis during growth. Scoliosis Spinal Disord, 13, 3.