As diferenças no comprimento dos membros inferiores são observadas numa pequena percentagem da população e essa diferença está relacionada com a escoliose mas sem uma relação de causalidade provada. Contudo, fará sentido tentar corrigir a dismetria dos membros na tentativa de corrigir a escoliose?
Estudos indicam que uma dismetria (diferença no comprimentos dos membros inferiores) provoca uma obliquidade ou inclinação na pélvis num plano frontal e uma escoliose lombar com convexidade para o lado da extremidade mais curta (Sekiya et al., 2018, p. 4). Com base neste pressuposto, uma correcção da dismetria deveria ser importante para corrigir a escoliose lombar compensatória. Mas não parece ser tão linear como isso.
Pode haver dismetrias com vários graus: ligeira com diferenças de <3cm, moderada entre 3-6cm e severa >6cm (McCaw & Bates, 1991, p. 3). A importância da avaliação das dismetrias nos membros inferiores prende-se, não só por estar associada a uma escoliose adaptativa mas também porque pode levar a assimetrias na marcha, lombalgias e discopatias (Raczkowski, Daniszewska, & Zolynski, 2010, p. 1).
Em relação á escoliose, existem geralmente duas classificações. A primeira, que é uma escoliose estrutural, devido a patologias vertebrais. A segunda, uma escoliose não estrutural, ou funcional, devido a outras causas tais como: diferenças no comprimento dos membros inferiores, desequilíbrios na pélvis e assimetria nos músculos paravertebrais. A dismetria dos membros inferiores e espasmos musculares são causas comuns de escolioses funcionais (Lee, Yun, Jo, Seog, & Yoon, 2018, p. 3).
No caso da dismetria, ela pode ser dividida em dismetria estrutural e funcional. A real diferença de comprimento dos membros ocorre na estrutural, em contra partida, na funcional não existe uma real diferença no comprimento dos membros mas por fenómenos de flexão ou extensão das suas articulações podem provocar uma obliquidade pélvica (Sekiya et al., 2018, p. 2). Nas duas situações, ocorre uma inclinação da pélvis susceptível de causar uma escoliose lombar adaptativa contudo, a forma de abordar poderá ser diferente e não passível apenas de compensar com uma palmilha por exemplo mas a nível muscular.
Visto isto, a hipótese que surge é que a escoliose funcional possa ser corrigida quando se corrigem as causas para a mesma.
As últimas guidelines (Negrini et al., 2018) para o tratamento da escoliose não contemplam a questão da correcção da dismetria dos membros inferiores, embora hajam vários estudos que a tentam responder. Ao que parece, quando as causas para a escoliose são funcionais e adaptativas, ela resolve aquando da correcção das mesmas (Raczkowski et al., 2010, p. 2). Contudo, outros estudos referem que, embora a correcção seja eficaz na diminuição das curvas, ela é eficaz quando as curvas são inferiores a 25º. Em curvas acima desse valor pode haver um agravamento da escoliose aquando da correcção da dismetria. Para além de que, ao que parece, os resultados positivos dificilmente são superiores a 5º (Lee et al., 2018, p. 6).
Outro problema que ocorre com as dismetrias é que possa haver uma diferença no estímulo para o crescimento ósseo. Irá haver mais carga no membro inferior mais comprido e essa carga irá traduzir-se em mais estímulo para o crescimento. Num estudo elaborado por Raczkowski e colegas, verificaram que em média, o membro mais comprido tem mais carga, cerca de 12.5% do que o mais curto, vendo assim diminuído do estímulo para crescer. Ao fazer a correcção, a carga no membro mais curto pôde aumentar cerca de 22% (Raczkowski et al., 2010, p. 5). Isto para um adolescente em fase de crescimento pode ser um dado importante e abre a possibilidade para auxiliar no mecanismo natural de correcção no crescimento.
Existem estudos que referem não haver uma correlação importante entre a perna curta e a escoliose lombar associada e a correcção da dismetria com pouca relevância para a correcção da escoliose (Lee et al., 2018, p. 7), contudo, outros apontam melhorias na escoliose funcional corrigindo os factores desencadeantes, nomeadamente a correcção da dismetria dos membros inferiores com o uso de palmilha (Lee et al., 2018, p. 6; McCaw & Bates, 1991, p. 3; Raczkowski et al., 2010, p. 5). Não parece haver agravamento da escoliose com o uso de palmilhas para a correcção da dismetria (Lee et al., 2018, p. 7), contudo isso não parece ser verdade quando se inicia a correcção em curvas com ângulos de cobb elevados (>25º)(Lee et al., 2018, p. 6). A haver correcção das curvas, elas não parecem ir além de 5º.
Finalizando, uma coisa parece ser consensual, na altura de avaliar um paciente com escoliose, pelo menos parece ser importante se seja feita uma boa avaliação de desequilíbrios musculares e de dismetria dos membros inferiores. Em relação ao uso de palmilha ou não, ainda é necessário haver um maior consenso científico para a aplicar como primeira linha de tratamento na escoliose.
Rodrigo J. C. Estiveira, 2020
Bibliografia
Lee, J. G., Yun, Y. C., Jo, W. J., Seog, T. Y., & Yoon, Y. S. (2018). Correlation of Radiographic and Patient Assessment of Spine Following Correction of Nonstructural Component in Juvenile Idiopathic Scoliosis. Ann Rehabil Med, 42(6), 863-871.
McCaw, S. T., & Bates, B. T. (1991). Biomechanical implications of mild leg length inequality. Br J Sports Med, 25(1), 10-13.
Negrini, S., Donzelli, S., Aulisa, A. G., Czaprowski, D., Schreiber, S., de Mauroy, J. C., . . . Zaina, F. (2018). 2016 SOSORT guidelines: orthopaedic and rehabilitation treatment of idiopathic scoliosis during growth. Scoliosis Spinal Disord, 13, 3.
Raczkowski, J. W., Daniszewska, B., & Zolynski, K. (2010). Functional scoliosis caused by leg length discrepancy. Arch Med Sci, 6(3), 393-398.
Sekiya, T., Aota, Y., Yamada, K., Kaneko, K., Ide, M., & Saito, T. (2018). Evaluation of functional and structural leg length discrepancy in patients with adolescent idiopathic scoliosis using the EOS imaging system: a prospective comparative study. Scoliosis Spinal Disord, 13, 7.
Estudos indicam que uma dismetria (diferença no comprimentos dos membros inferiores) provoca uma obliquidade ou inclinação na pélvis num plano frontal e uma escoliose lombar com convexidade para o lado da extremidade mais curta (Sekiya et al., 2018, p. 4). Com base neste pressuposto, uma correcção da dismetria deveria ser importante para corrigir a escoliose lombar compensatória. Mas não parece ser tão linear como isso.
Pode haver dismetrias com vários graus: ligeira com diferenças de <3cm, moderada entre 3-6cm e severa >6cm (McCaw & Bates, 1991, p. 3). A importância da avaliação das dismetrias nos membros inferiores prende-se, não só por estar associada a uma escoliose adaptativa mas também porque pode levar a assimetrias na marcha, lombalgias e discopatias (Raczkowski, Daniszewska, & Zolynski, 2010, p. 1).
Em relação á escoliose, existem geralmente duas classificações. A primeira, que é uma escoliose estrutural, devido a patologias vertebrais. A segunda, uma escoliose não estrutural, ou funcional, devido a outras causas tais como: diferenças no comprimento dos membros inferiores, desequilíbrios na pélvis e assimetria nos músculos paravertebrais. A dismetria dos membros inferiores e espasmos musculares são causas comuns de escolioses funcionais (Lee, Yun, Jo, Seog, & Yoon, 2018, p. 3).
No caso da dismetria, ela pode ser dividida em dismetria estrutural e funcional. A real diferença de comprimento dos membros ocorre na estrutural, em contra partida, na funcional não existe uma real diferença no comprimento dos membros mas por fenómenos de flexão ou extensão das suas articulações podem provocar uma obliquidade pélvica (Sekiya et al., 2018, p. 2). Nas duas situações, ocorre uma inclinação da pélvis susceptível de causar uma escoliose lombar adaptativa contudo, a forma de abordar poderá ser diferente e não passível apenas de compensar com uma palmilha por exemplo mas a nível muscular.
Visto isto, a hipótese que surge é que a escoliose funcional possa ser corrigida quando se corrigem as causas para a mesma.
As últimas guidelines (Negrini et al., 2018) para o tratamento da escoliose não contemplam a questão da correcção da dismetria dos membros inferiores, embora hajam vários estudos que a tentam responder. Ao que parece, quando as causas para a escoliose são funcionais e adaptativas, ela resolve aquando da correcção das mesmas (Raczkowski et al., 2010, p. 2). Contudo, outros estudos referem que, embora a correcção seja eficaz na diminuição das curvas, ela é eficaz quando as curvas são inferiores a 25º. Em curvas acima desse valor pode haver um agravamento da escoliose aquando da correcção da dismetria. Para além de que, ao que parece, os resultados positivos dificilmente são superiores a 5º (Lee et al., 2018, p. 6).
Outro problema que ocorre com as dismetrias é que possa haver uma diferença no estímulo para o crescimento ósseo. Irá haver mais carga no membro inferior mais comprido e essa carga irá traduzir-se em mais estímulo para o crescimento. Num estudo elaborado por Raczkowski e colegas, verificaram que em média, o membro mais comprido tem mais carga, cerca de 12.5% do que o mais curto, vendo assim diminuído do estímulo para crescer. Ao fazer a correcção, a carga no membro mais curto pôde aumentar cerca de 22% (Raczkowski et al., 2010, p. 5). Isto para um adolescente em fase de crescimento pode ser um dado importante e abre a possibilidade para auxiliar no mecanismo natural de correcção no crescimento.
Existem estudos que referem não haver uma correlação importante entre a perna curta e a escoliose lombar associada e a correcção da dismetria com pouca relevância para a correcção da escoliose (Lee et al., 2018, p. 7), contudo, outros apontam melhorias na escoliose funcional corrigindo os factores desencadeantes, nomeadamente a correcção da dismetria dos membros inferiores com o uso de palmilha (Lee et al., 2018, p. 6; McCaw & Bates, 1991, p. 3; Raczkowski et al., 2010, p. 5). Não parece haver agravamento da escoliose com o uso de palmilhas para a correcção da dismetria (Lee et al., 2018, p. 7), contudo isso não parece ser verdade quando se inicia a correcção em curvas com ângulos de cobb elevados (>25º)(Lee et al., 2018, p. 6). A haver correcção das curvas, elas não parecem ir além de 5º.
Finalizando, uma coisa parece ser consensual, na altura de avaliar um paciente com escoliose, pelo menos parece ser importante se seja feita uma boa avaliação de desequilíbrios musculares e de dismetria dos membros inferiores. Em relação ao uso de palmilha ou não, ainda é necessário haver um maior consenso científico para a aplicar como primeira linha de tratamento na escoliose.
Rodrigo J. C. Estiveira, 2020
Bibliografia
Lee, J. G., Yun, Y. C., Jo, W. J., Seog, T. Y., & Yoon, Y. S. (2018). Correlation of Radiographic and Patient Assessment of Spine Following Correction of Nonstructural Component in Juvenile Idiopathic Scoliosis. Ann Rehabil Med, 42(6), 863-871.
McCaw, S. T., & Bates, B. T. (1991). Biomechanical implications of mild leg length inequality. Br J Sports Med, 25(1), 10-13.
Negrini, S., Donzelli, S., Aulisa, A. G., Czaprowski, D., Schreiber, S., de Mauroy, J. C., . . . Zaina, F. (2018). 2016 SOSORT guidelines: orthopaedic and rehabilitation treatment of idiopathic scoliosis during growth. Scoliosis Spinal Disord, 13, 3.
Raczkowski, J. W., Daniszewska, B., & Zolynski, K. (2010). Functional scoliosis caused by leg length discrepancy. Arch Med Sci, 6(3), 393-398.
Sekiya, T., Aota, Y., Yamada, K., Kaneko, K., Ide, M., & Saito, T. (2018). Evaluation of functional and structural leg length discrepancy in patients with adolescent idiopathic scoliosis using the EOS imaging system: a prospective comparative study. Scoliosis Spinal Disord, 13, 7.