Provavelmente muitos já ouviram falar do efeito Placebo, ainda á poucos anos associado a uma corrente terapêutica, de tal forma que mereceu a atenção da European Academies Science Advisory Coucil (Homeopathic products and practices: Assessing the evidence and ensuring consistency in regulating medical claims in the EU, 2017). Mas afinal o que é este efeito Placebo e de que forma hoje em dia poderá ajudar nos mais variados tratamentos?
Em definição, o placebo é o efeito que se obtém quando uma substância sem quaisquer efeitos terapêuticos é administrada. Ela melhora depois a condição de saúde de um paciente, pela sua crença de que a substância é eficaz. Para tornar isto mais interessante, existe também uma contra parte, chamada nocebo que é definido como o efeito negativo que uma substância sem qualquer princípio activo provoca no estado de saúde da pessoa que a toma por causa das suas expectativas e crenças negativas.
A primeira vez que este efeito foi provado, foi usando um tratamento que tinha surgido no século 18 pelas mãos de um médico dos Estados Unidos chamado Elisha Perkins. Ele afirmava que várias doenças podiam ser curadas tocando no corpo com uns bastões metálicos, que teriam supostos efeitos magnéticos de cura. Pegando neste tratamento, outro médico, usando bastões similares mas pintados com cor metálica, observou que conseguia obter os mesmos resultados, tornando-se a primeira experiência na história a provar o poder do efeito placebo (Pozgain, Pozgain, & Degmecic, 2014, p. 1).
Um outro estudo foi realizado usando doentes com artrite no joelho na segunda metade do século passado, mais tarde polémico por razões éticas. Os pacientes foram divididos em 3 grupos: num primeiro era feita uma raspagem da cartilagem danificada, no segundo grupo era feita apenas uma limpeza no joelho removendo possíveis causas de inflamação e finalmente no terceiro era feita uma falsa cirurgia. No final, todos os pacientes tiveram os mesmos resultados, mostrando que não tinha havido diferenças no sucesso terapêutico entre os grupos (Pozgain et al., 2014, p. 2).
Desde então, o efeito placebo tem sido extremamente útil aquando dos estudos científicos para comprovar abordagens em medicina. Citando Angel e Kassirer (Homeopathic products and practices: Assessing the evidence and ensuring consistency in regulating medical claims in the EU, 2017, p. 9), “não podem haver dois tipos de medicina, uma convencional e outra alternativa. Apenas há medicina que foi adequadamente testada e outra que não foi…”. Desta forma é possível hoje em dia, usando o método científico perceber se a abordagem ou droga terapêutica usada tem verdadeiros resultados ou se eles se devem apenas a um efeito placebo, um efeito por sugestão.
O que acontece quando um indivíduo toma um comprimido ou recebe uma intervenção que acredita ser terapêutica e que na verdade não produz quaisquer resultados, é que vai influenciar todo um sistema de crenças e expectativas. Quando o individuo acredita que irá haver um resultado positivo com a terapêutica, ele acciona um poderoso sistema neurofisiológico que controla as vias fisiológicas de controlo descendente da dor, libertando substâncias opióides endócrinas que diminuem a sensação de dor (Pozgain et al., 2014, p. 2).
De facto, este modelo com base nas expectativas explica como os pensamentos e crenças podem ter uma forte influência no estado de saúde usando as reações neuroquímicas do organismo, levando a uma resposta hormonal e imunológica no individuo. O que parece ser uma simples reacção placebo, pode ser certamente também uma resposta verdadeiramente terapêutica positiva (placebo) ou negativa (nocebo).
Hoje em dia, o efeito placebo é tido em conta na sua vertente terapêutica como por exemplo na administração de medicamentos que tenham efeitos secundários ou indesejados quando tomados em doses altas ou prolongadas. Em situações em que se quer administrar a menor quantidade possível de medicação como no uso de corticóides em pacientes com psoríase ou medicação para crianças com hiperactividade, pode usar-se um placebo de forma a condicionar os resultados sentidos pelo paciente. Intercalando a medicação com um placebo, é possível ter os mesmos efeitos terapêuticos aquando da toma de uma substância placebo e assim diminuir as doses usadas para um mesmo efeito.
Mas nem tudo passa pela intervenção com medicação. Os factores contextuais que envolvem as terapias passam também, por exemplo, pelo número de observações em follow-up que ocorrerem. É o caso dos doentes que sofrem de depressão e que melhoram muito mais quando o tratamento compreende visitas mais frequentes. O inverso ocorre com a quantidade de tempo que um paciente tiver de esperar em lista de espera antes de um tratamento. A arquitectura do espaço onde vai decorrer o tratamento, a expectativa face ao mesmo, o terapeuta, assim como as experiências passadas do paciente, tudo isto são factores contextuais e podem influenciar os resultados finais de um tratamento (Rossettini, Carlino, & Testa, 2018, p. 6).
Vis medicatrix naturae significa o poder curativo da natureza, e é uma frase atribuída a um dos princípios da Medicina de Hipócrates. Este princípio pressupõe que os organismos se deixados sozinhos podem muita das vezes curar-se sozinhos. De facto, se o placebo for essa capacidade intrínseca de cura, então é esta também uma ferramenta terapêutica que estamos a explorar. Isto, com o objectivo de tentar optimizar ao máximo as intervenções terapêuticas fazendo uso deste poder de cura.
Felizmente o método científico e a matemática (estatística) tem-se desenvolvido o para podermos cada vez mais caminharmos a passos seguros para intervenções terapêuticas mais eficazes. Acredito que possamos eliminar gradualmente intervenções e/ou disciplinas que não têm resultados eficazes e que apenas persistem por crenças por parte dos pacientes mas também dos terapeutas.
Mais do que tudo, o efeito placebo e nocebo existem e cada vez mais saberemos manipula-lo para que as intervenções terapêuticas sejam mais eficazes.
Rodrigo J. C. Estiveira, 2019
Bibliografia
Homeopathic products and practices: Assessing the evidence and ensuring consistency in regulating medical claims in the EU. (2017). European Academies Science Advisory Council.
Pozgain, I., Pozgain, Z., & Degmecic, D. (2014). Placebo and nocebo effect: a mini-review. Psychiatr Danub, 26(2), 100-107.
Rossettini, G., Carlino, E., & Testa, M. (2018). Clinical relevance of contextual factors as triggers of placebo and nocebo effects in musculoskeletal pain. BMC Musculoskelet Disord, 19(1), 27.